terça-feira, 24 de março de 2009

Diário de um cronista.

Abrir os olhos, respirar um pouco, olhar ao redor e perceber o mundo que cerca a nós todos pela manhã. Pronto.
Agora, acordado, ir ao banheiro, olhar no espelho, reclamar da feição de sono, escovar os dentes e fazer tudo aquilo que temos vontade quando acordamos. Ir até a cozinha, pegar alguma coisa pra comer, comer. Agora sim. Pronto.
Direto ao trabalho, sentar no sofá e ler as notícias do dia, para sentir a inspiração. Bate a porta. Era ela, acompanhada de novo da violência cotidiana. O “caso Nardoni” volta à tona. Nada mais que possa escrever, ficará velho e sem sentido repetir.
Morrem várias pessoas por dia. Isso! Pode ser isso desta vez! Não. “Se escrever mais uma vez sobre isso, será a última vez que escreve para este jornal.” Havia dito o editor, justo na semana passada.
Passam as horas, o dead-line se aproxima. O tic-tac do relógio é quase ensurdecedor dentro da casa tranqüila e silenciosa. Esportes. Pode ser a salvação de um escritor sem idéias. Ronaldo volta ao Corinthians. Ficou velha. Seleção Brasileira joga semana que vem. Não tem nada para falar que já não tenha escrito nos últimos jogos. Implorar aos céus por um toque de criatividade que não veio durante o dia todo. Já havia perdido a fome, não levantara da cadeira nem para ir ao banheiro de tão nervoso.
Subitamente dá certo. Como um raio, vem um momento de criatividade nunca antes sentido. Escreve sem parar. Em cima da hora manda para o jornal. Recebe a resposta do editor: Está ótimo seu texto! Sempre soubemos do seu talento. Se mantiver essa linha, terá futuro!
Agora sim. Ir até a cozinha, pegar alguma coisa pra comer, comer. Ir ao banheiro, olhar no espelho, reclamar da feição de sono, escovar os dentes e fazer tudo aquilo que temos vontade de fazer antes de dormir.
Perceber o mundo ao seu redor, fechar os olhos. Dormir. O sono dos justos. Cansado.

Sobre o que escrevera? Sobre um escritor sem idéias na mente.